A Ponta da Praia é um lugarzinho bem maneiro não é mesmo?
Muita gente tem dúvidas e curiosidades sobre este lugar tão exótico, exuberante e selvagem...
Hoje quero falar mais sobre o que as belezas que este lugar nos reserva... Quero tentar explicar as constantes transformações que ocorrem por lá.
Algo que muita gente pensa ser destruição, na verdade, é renovação!
Algo que muita gente pensa ser destruição, na verdade, é renovação!
Em primeiro lugar vamos esclarecer a situação daquela região: o decreto que criou a Ilha (30817/89) diz que aquela área - do Araçá até a Ponta Norte da Ilha - é uma ZPE (Zona de Proteção Especial) e lá não deve haver parcelamento do solo, ou seja, não pode existir, em hipótese alguma, ruas ou terrenos com moradias.
Vamos entender geológica e ecologicamente o que é a Ponta da Praia e sua importância para todo o ecossistema da Ilha.
Por ser a parte mais "nova" da Ilha, nesta região a areia, ainda não sedimentou o suficiente. Isso faz com que a área esteja sempre sujeita a influência de água que desce do rio trazendo muita terra e sedimentos do mangue.
Somados às fortes correntes que levam e trazem estes sedimentos, a área, está em constante movimentação e formação... e erosão... e material orgânico... Ou seja, é um novo espaço nascendo!
E, por esse motivo, não poderia ser uma área ocupada por pessoas.
Todo este processo é natural, mas a ocupação humana interfere muito, agride todo o ciclo!
Sendo assim, fica fácil entender o porque de tantas casas estarem sendo destruídas e engolidas pelo mar. Este espaço, ainda, pertence a natureza. É ela quem domina por aqui.
Nossa obrigação, enquanto cidadãos conscientes, é a de preservar isso tudo.
Os manguezais, por exemplo, encontram-se entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
As florestas de mangue oferecem importantes bens e serviços para as
espécies animais que vivem em seu entorno. Além disso, este ecossistema ajuda a estabilizar as linhas de costas além de reduzirem o impacto de desastres naturais!
Toda vez que interferimos e agredimos, nós retardamos este processo!
O material orgânico é de suma importância por aqui, ele é responsável pelo equilíbrio e formação...
Mas todos estes escombros e lixo humano atrapalha e estraga o processo natural.
Hoje, com uma pequena caminhada por lá, pode-se observar a quantidade de destroços por toda a orla da praia. Material, este, que além de retardar o processo natural, oferece risco às pessoas.
Com o avanço da maré e a destruição das casas, o mar ficou prejudicado para os banhistas. Em locais que menos se espera há restos de colunas, ferros de estrutura, pedaços de cerâmica, louças de banheiro...
Ou seja, todo cuidado é pouco ao se aventurar por aqui.
Dá última vez que fui para lá, vi três crianças brincando em um colchão inflável ao lado de imensos entulhos, famílias fazendo churrasco em restos de casas que estão completamente comprometidas e oferecem enorme risco de desmoronamento.
Creio que deveria haver, por lá, pelo menos placas sinalizadoras de locais impróprios para banho.
As casas deveriam estar interditadas e os destroços poderiam ser recolhidos...
A natureza poderia seguir seu processo e poderíamos apreciar suas maravilhas sem riscos!
Deixar que as transformações ocorram, que a vegetação se forme, que as espécies animais se reproduzam... Isso é consciência ecológica, isso é preservação, isso é aproveitamento inteligente da abundância e riqueza que a Ilha nos oferece.
A Ponta da Praia já se trata de um ambiente altamente estressante devido ao tipo de solo, cobertura vegetal, temperatura e amplitude das marés, ou seja, por suas condições naturais...
Creio que, com respeito e harmonia, podemos contribuir para que as coisas por lá sigam seu ciclo e este importante local continue alimentando toda a Ilha com sua matéria orgânica.
Como sempre digo, uma Ilha é um organismo vivo e para viver bem precisa gozar de plena saúde!
P.S.: Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Glauco Rigo, biólogo morador da Ilha, que contribui com o material necessário para que eu pudesse escrever este artigo.
Deixo, também, o link do decreto que tornou esta área uma ZPE: